Uma romaria de mulheres procura diariamente os hospitais públicos brasileiros. Depois de abortos clandestinos e malsucedidos, elas precisam de atendimento médico com urgência. São, em média, 256 a cada dia, 10 por hora. A mesma quantidade de vítimas de clínicas ou medicamentos clandestinos enfrenta a decisão pelo aborto sem qualquer suporte médico.
José Serra, candidato à Presidência da República pelo PSDB... |
... e Dilma Roussef, do PT, são acusados de explorar o tema de maneira superficial |
Especialistas acreditam que o embate político na disputa presidencial deste ano reduziu a discussão sobre o aborto a um mero aspecto religioso e fez os candidatos ignorarem o aspecto de saúde pública do aborto. O assunto passou a ser o mote do segundo turno das eleições, ganhou evidência, mas foi reduzido a posições contrárias ou favoráveis simplesmente.
“Se os candidatos querem seriamente discutir o aborto, não devem fazer disso uma moeda de troca com as religiões. Debater o aborto deve ser um marco da saúde das mulheres, não uma concessão religiosa”, afirma a antropóloga Debora Diniz, pesquisadora do Anis — Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero, e professora da Universidade de Brasília (UnB).
Debora é uma das principais referências no assunto. No início do ano, um estudo de sua autoria, a Pesquisa Nacional do Aborto (PNA), mostrou que 15% das mulheres brasileiras já fizeram um aborto pelo menos uma vez na vida.
“A abordagem dos candidatos está completamente inadequada. O aborto não é uma carnificina nem é uma questão religiosa em si”, diz o professor de ginecologia da Faculdade de Medicina de Jundiaí Thomaz Gollop, coordenador de um grupo de estudo sobre aborto da Socidade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
“Como médico, é óbvio que não sou a favor do aborto, mas estamos lidando com preconceitos, e não com conceitos.” Gollop lembra que a proibição do aborto está prevista numa lei de 70 anos atrás. “Os costumes e a realidade mudaram completamente”, diz o pesquisador. A legislação penal garante a realização do aborto apenas para casos em que a gravidez é decorrente de um estupro ou oferece riscos de morte à gestante. (Texto extraído em www.correiobrasiliense.com.br em 10 de outubro de 2010.)
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